31 de mar. de 2012

DEZOITO VIDAS SALVAS

Ele teve uma infância muito ativa. Morava numa roça cheia de árvores frutíferas e grande área para correr, jogar bola, brincar de picula, empinar pipas, enfim: espaço suficiente e aprazível para tudo que a criança deseja e precisa. Algumas das principais brincadeiras era subir nas árvores e no telhado de um pombal, que foi construido encostado à parede de sua residência e instalado, por último, luz elétrica. A cobertura do referido pombal era de zinco e os fios elétricos, em contato, descascaram passando corrente. Como a estrutura era de madeira, ele subia isolado. Certo dia, repetindo a façanha, o nosso personagem encostou uma das mãos na parede mais alta do imóvel e a corrente elétrica o atingiu: dando um grito de terror, desmaiou inclinando o corpo sobre o telhado, com a mão ainda encostada na citada parede.

Sua mãe assustada, escutou o seu grito e avisou para o seu mano mais velho, que já era adulto e forte e foi ao seu socorro, conseguindo retirá-lo de lá, desfalecido e com a aparência fatal. O mano e sua genitora, em desespero, fizeram a sua respiração artificial durante algum tempo. Resultado: ele está aqui, já idoso, com oito filhos, nove netos e um bisneto, que correspondem às dezoito vidas que seu mano e sua mãe salvaram!     

23 de mar. de 2012

O ELOGIO

Espero que você me elogie por minhas qualidades. Dizia o esposo à sua companheira de longas datas. Ele, um intelectual de renome internacional e ela, uma simples dona de casa. Não obstante as diferenças de classe, viviam felizes e em completa harmonia. Ela, diversas vezes comentava sobre os feitos de suas colegas ou amigas, achando-as inteligentes e capazes. Ele, em razão dos seus afazeres, não ligava muito para essas observações. O tempo prosseguia e o marido a esperar que a dedicada esposa, percebesse o quanto ele era capaz e inteligente. Mostrava os seus trabalhos, os elogios diversos, as homenagens em várias regiões e a esposa continuava na dela, sem se empolgar com as suas realizações, achando ou pensando serem coisas banais. Apesar de toda essa indiferença continuava uma ótima dona de casa e excelente companheira.

Certa ocasião, na constante lida diária, percebeu um vazamento na torneira da pia de cozinha e logo comunicou ao esposo a fim de providenciar um encanador.

O querido marido não chamou ninguém, ele mesmo consertou.

Assim recebeu o aplauso da querida esposa e o elogio de inteligente e capaz, que tanto esperava! 

20 de mar. de 2012

O ZÉ DE ZILDA

Ele costumava dizer a sua amada: Você é o meu amor sincero e em torno disso há uma história!... Zé de Zilda foi um homem feliz algumas vezes, uma delas, quando conheceu a Zefa e por ela passou a nutrir um intenso amor e a cortejá-la. Zefa era, naquela época, uma garota de dezesseis anos completos, cabelos e olhos castanhos, pele bronzeada pelo sol do sertão baiano. Estatura mediana e com o calor tropical de muitos graus. Vivia em companhia dos seus pais, filha única. Seus genitores pretendiam para ela um futuro promissor, na certeza de que alguém, que viesse a desposá-la, fosse da capital e de estudos. O Zé era pobre e morava  na mesma região que eles e sem grandes perspectivas futuras. Vivia do trabalho braçal, cuidando da lavoura, numa propriedade dos seus familiares. Era de boa compleição física, moreno, estatura mediana, bom caráter, com dezessete primaveras completas.

Devido a insistência do Zé, a Zefa se deixou envolver e passaram a namorar com encontros fortuitos, sempre as escondidas de todos. O amor em Zé cresceu assustadoramente, não ocorrendo o mesmo com a sua amada, que o relegava a segundo plano.

Certa feita ele a confidenciou: Eu lhe amo e se você me trocar por outro, garanto matá-lo. A Zefa não dava importância e crédito as ameaças do pobre Zé e mesmo lhe tendo alguma simpatia, não desejava levar a sua vida naquela pobreza.

Um ano se passou. Na localidade, foi morar um jovem advogado, simpático e solteiro. Ele assessorava o Chefe da Comuna e nas horas vagas cuidava das questões dos fazendeiros e por alguma razão, tornou-se amigo dos pais de Zefa e a sua casa passou a ser frequentada pelo causídico, logo surgindo um romance, fazendo com que Zefa se afastasse do Zé. Este não se conformando foi diversas vezes procurá-la na sua própria residência, não sendo recebido por seus pais. Zefa casou-se rapidamente e viajou com o esposo para lugar ignorado.

Zé curtiu a sua dor por muito tempo e, um ano e seis meses depois, soube do retorno do casal. Eles viriam com a filhinha para ver os avós. Foi quando Zé , corroido pela saudade e sedento por vingança, planejou o crime: Eram seis horas da noite, o sino da Capelinha começava a tocar. A lua refletia uma luminosidade deslumbrante. Os vaga-lumes se aglomeravam entre os arbustos para os incessantes lumes. As estrelas davam um colorido todo especial e melhoravam ainda mais a luminosidade. Naquele momento, o Zé enroscado feito uma cobra, atrás de uma moita, ajusta uma espingarda em direçao ao peito do seu rival que vem se aproximando. "Deus escreve certo com linhas tortas". Pois, naquele instante, como uma proteção divina, uma criança é colocada nos braços do marido de Zefa, a mulher pede: carregue a nossa filha que eu estou cansada. Zé treme e murmura: eu já ia disparar a arma. Meu Deus, eu mataria o neném! Chorando, joga-se no chão e diz baixinho: salvou seu pai, criança!

O tempo passou. Zé, por muitos anos , não gostou mais de ninguem. Em compensação, foi para a Capital, arranjou um emprego e concluiu o curso universitário, custeado por seus próprios esforços. Diplomou-se em História e foi lecionar em um dos bons colégios da cidade. Continuava com o mesmo bom comportamento e, por essa razão, todos o admiravam. Para os alunos, em geral, era um verdadeiro líder. Entre as alunas, existia alguém muito especial, bem aplicada e uma das mais bonitas. Zé apaixonou-se por Zilda, seu verdadeiro nome e com a idade do seu antigo amor. O romance tem início e rapidamente ficam noivos. A Zilda corresponde a essa paixão.

Do namoro ao noivado pouco se sabia sobre a procedência de ambos, porém, nessa fase, era necessário que as famílias se conhecessem e assim partiram com esse propósito: Primeiro ao encontro dos pais da moça. Tal não foi a surpresa do Zé quando viu a sogra e o sogro, eram eles: Zefa e Alcides, o seu antigo amor e o seu antigo rival, que, também surpresos e emocionados, os receberam carinhosamente.

Zé, agradeceu a Deus por eles estarem casados e colocado no mundo a maravilhosa criatura que ele ia desposar.

Hoje,  casados e amados, Zé repete à esposa a frase: Você é meu amor sincero e em torno disso há uma história: Salvou seu pai quando você ainda não sonhava pensar e eu nem pensava lhe amar!             

19 de mar. de 2012

A INGENUIDADE

Certa ocasião, sentado na cadeira do papai, pois já o sou há algum tempo, bem como avô e bisavô.Lendo um dos jornais da cicade, com óculos para facilitar a minha visão, já que eu estava precisando; rodeado por dois filhos menores, porque os mais velhos deveriam estar com os amigos ou com namoradas. Li uma matéria que me interessava e como minha companheira estava cuidando da casa, eu comentei, ingenuamente, com meu filho pequeno de quatro a cinco anos, que estava a observar os meus óculos. Ele, no entanto, não entendeu nada do que eu lhe falei e o que estava despertando a sua atenção era outra coisa, exatamente o objeto que estava me facilitando ler melhor. Em dado momento, ele me pediu: Pai, quando eu ficar bem velhinho, você me dá uns óculos iguais ao seu? Eu respondi que sim! Porque como eu poderia explicaar a razão de não poder atendê-lo, se ele ainda não entendia o que significava a morte.
Lembrei-me então do meu queerido pai, quando tentou me explicar que um dia a pessoa teria que morrer e eu lhe disse: Eu não quero morrer não e ele me respondeu, eu tambem não e concluiu: você só vai morrer bem velhinho! Parece que ele acertou, porque até agora eu estou aqui e ele se foi tão cedo!  

18 de mar. de 2012

MÚSICA: LA VI AN ROSE - Versão: Carlos de Sena

Essa vida que nos traz
Recordações fatais,
Tristezas, dissabores.

São por vezes, tão banais,
Tão bobas, nada mais,
Que não nos causam dores.

E se estamos a sentir,
Ingrato amor partir,
Outro cobre em cores:

Para nunca esse amor recordar
E tão livre vai nos transportar
Junto ao novo coração,
Repleto de emoção,
A nos amar! 

14 de mar. de 2012

A RECIPROCIDADE

A rosa junto do cravo,
Escorregaram num rio,
O cravo tornou-se bravo,
Salvando a rosa do frio!

Mas a rosa, por gratidão,
Disse ao cravo nadador:
É teu o meu coração,
Pois foste meu salvador.

Eu gosto de ti querido,
Pois tu és encantador!
E o cravo bem comovido,

Disse a rosa, meu amor,
Sou teu cravo preferido?
Então és a minha flor!  

QUERO MAIS (Música elaborada na década de 60)

Quando estou nos teus braços querida,
Me apodero de grande emoção
E percebo que és toda minha vida,
No descompassar do meu coração.

Mas se acaso com muito carinho,
Julgas que já me destes demais,
O meu peito murmura baixinho:
Quero mais, quero mais, quero mais.

Meu bem, faças nesta canção
Dueto com o meu coração,
O amor, nunca, nunca é demais:
Quero mais, quero mais, quero mais!

12 de mar. de 2012

O ENVELHECIMENTO

Estou envelhecendo, é inevitável,
Quem nasce já começa a envelhecer,
Se acontecer comigo, é até louvável,
Mas, não com meus descendentes e nem com você!

Estou envelhecendo, falta-me até coragem,
De entender como isso pode rápido acontecer,
Deveríamos ser eternos na nossa imagem
Se você não me olha tododia, não vai me reconhecer.

A gente muda a cada hora, em ultrapsssagem,
Que o tempo vai correndo e não para de correr,
Melhor seria, que ele nos desse tempo de vantagem,
A fim de continuarmos os mesmos até morrer.

Porém, como disse: envelhecer é inevitável,
Basta se vir ao mundo para isso acontecer,
Mas, se acontecer comigo, acho até bobagem,
Não com os meus descendentes e nem com você!...

11 de mar. de 2012

O PREOCUPADO PENSADOR

Pelas ruas da cidade, passava um ancião pensativo que, consigo murmurava, refletindo a crise atual e como não tinha parceiro para o seu pensamento, pois todos estavam em busca das suas sobrevivências, tranquilamente caminhava no seu confabular.
Dizia a si próprio: Por que o homem luta para impedir a crise e a conjuntura atual continua a implantar os seus métodos extorsivos de custo de vida? Melhor seria que parássemos para pensar e analísássemos: Será que vale a pena a luta pela vida, quando a situação está de morte? Em que tempos o homem deixou de se divertir, de levar os fins de semana a devanear? Hoje é preciso ganhar, como ganhar, quanto ganhar?...Divertimento para quem? Porque, se uma pessoa pára, alguém fica com fome. Assim refletia o filósofo que, preocupadamente, estava analisando o mundo dos dias atuais. Em dado momento, topa com conhecido de longas datas e indaga-lhe: Você também virou máquina de sobrevivência? O velho amigo,  ironicamente, lhe respondeu: estou angariando dinheiro para minha morte, pois já estou bem próximo e o que me preocupa não é a vida e sim o cessar dela. Como hei de pagar o meu sepultamento? Será que nem posso morrer? Ou então faremos um trato: O que morrer depois custeará o enterro do primeiro, pois afinal somos bons amigos! Apressadamente respondeu o inteligente pensador: De jeito nenhum, serviços funerais estão pela hora da morte! 

FELIZ JUNTO A TI (música alaborada na década de 60)

Como me sinto mãezinha,
Feliz junto a ti,
Por ti milhões de amores
Deixei por aí,
Porque és sempre a razão
Da minha vida,
Quanto mais passa o tempo,
És mais querida.

Por ti milhões de amores
Deixei por ái,
Porque eles todos juntinhos
Não valem por ti,

Como doe meu coração,
Como fico a padecer,
Só em supor que um dia
Vou te perder!

7 de mar. de 2012

DECLÍNIO DA VIDA

Lembro-me bem daquelas festas de terreiro,
Que eu chegava sempre alegre e o primeiro,
Para ficar bem coladinho ao meu amor,
Criança linda, ainda em flor!

Ouvia o canto do primeiro boiadeiro,
Que transitava nessa ora e bem fagueiro
Para mostrar que era um bom cavalgador,
Tudo isso, infelizmente, terminou.

Agora eu vejo que naquele tempo sobranceiro,
Eu tinha a Rosa do Ranchinho e do Roceiro,
A flor que era bela, já murchou.

E eu que era tão bonito e altaneiro,
E que sempre quis ser o primeiro,
Fui o primeiro desta vida que murchou!

4 de mar. de 2012

EU HOJE AINDA NÃO BEBI

Eu o encontrei vagando pelas ruas da cidade. Seu rosto triste aparentava a angústia vivida por muitos anos, seu olhar vazio, traduzia a falta de esperança para o depois, parou no tempo. Tinha como obrigação diária, a frequência numa vendola da esquina, também precária como o seu estado físico. As suas amizades eram aqueles que perambulavam pelas calçadas a procura do nada, os que não tiveram o ontem e, possivelmente, não teriam o amanhã. A sua dormida proviória, era um carro velho abandonado próximo à minha residência, até quando alguém o tirasse de lá, pois já estava atrapalhando o trânsito.

Pobre criatura, prosseguir para que lugar, qual seria o seu destino? Nas rodas dos amigos, certa feita, eu o vi sorrir como ninguém, talvez tivesse razão para fazê-lo, afinal eles se entendiam.

Um certo dia cruzamos os caminhos, e ele, olhou-me, desprezivelmente, como se pensasse: esse é mais um burguês que infesta a nossa cidade e o governo não toma nenhuma providência! Outra ocasião, postado à minha janela, de madrugada, quando surpreendera um marginal tentando roubar o meu veículo, o vi saíndo do carro velho abandonado na rua e, apesar do acontecido, não chamou a sua atenção. Foi como não estivesse presente ou então, fatos com este, fossem por demais corriqueiros em sua vida.

Várias vezes tive o desejo de abordá-lo para falar do seu passado, dizer que eu fui o seu vizinho, que ele foi inquilino de Dona Júlia, minha avó, casa situada no topo de uma colina e rodeada de arbustos, onde as pessoas eram iguais e as crianças acreditavam no futuro. Contar de tudo que lhe pudesse interessar e alegrar, porém, o tempo inimigo daqueles que tentam a luta pela sobrevivência, impedia que assim eu o fizesse.

Certo dia, fugindo à rotina, inesperadamente, o interceptei: Radi! Ele parou, continuei a falar: você não me reconhece, eu sou o Cacá, fomos crianças juntos; O seu nome próprio é Radiomar, porém, o chamei pelo apelido para lembrar os seus pais que assim o chamavam. Você morou próximo a mim. Lembro-me bem  quando você nasceu, a alegria foi tanta de todos os seus, que eu até tive inveja, eu era muito pequeno, porém, recordo que o meu mano mais velho lhe batizou. Seus pais, eufóricos, quiseram lhe dar o nome de Boa Ventura a fim de lhe proporcionar mais sorte, já que era também o nome do seu genitor.

Constantemente as nossas famílias se reuniam para fazer alguma festa em sua homenagem. Diva, sua mãe, faleceu cedo, você deveria estar com seis e eu com doze anos, aproximadamente. Você continuou em companhia de seu pai. Eu, pouco tempo depois, me afastei e nunca mais o vi. Agora, porém, depois de longo tempo, tive a satisfação de lhe encontrar, rever o velho companheiro de infância: o Radiomar ou Radi de Boa Ventura. Como está você, em que posso servi-lo, o que quer de mim? Ele olhou-me detidamente com a expressão de súplica e disse:  Moço, me dá um dinheiro aí para eu tomar um trago, minha gargante está seca, eu hoje ainda não bebi!...     

3 de mar. de 2012

FILHA MINHA

Menina, olha que coisa linda,
Você parece muito com o seu pai
Com a expressão de uma ternura infinda,
Que no semblante se externiza e cai.

Menina, manhã que não finda,
Dia cada vez mais a clarear,
Seu rosto de alvura linda,
Os sentimentos a se despontar.

Menina, você é mais que um ser,
É a crença de um devoto e a sua inspiração,
Que vive a lhe querer, amando até morrer!

Menina, Deus se esmerou nesta construção,
Que até Ele mesmo, demorou para crer,
Se o Deus era Ele, ou você então!...